Sobre a Relação de Casal
Quando duas pessoas ficam juntas, por que elas têm que dar certo, se têm origens diferentes, etnias diferentes, idiossincrasias diferentes, religiões diferentes, costumes diferentes, hábitos diferentes e apenas algumas coisas em comum?
Quem pensa que viver junto é fácil, provavelmente está subestimando a vida de casal. E, certamente, quando o sexo ceder lugar para outras necessidades, não encontrará respaldo. É preciso muito mais do que alguns desejos para dar certo, é preciso um projeto de casal que vai passando por diferentes momentos e sofrendo modificações de acordo com as necessidades. Mas é preciso algo fundamental para que o projeto funcione, é necessário afeto. Sem ele, o projeto se assemelha à construção de uma casa: os tijolos ficam empilhados se parecendo com uma casa, mas não tem estabilidade. A estabilidade vem do cimento que liga um tijolo no outro. Este é o afeto necessário em cada relação e que dá a ligadura necessária para enfrentar as dificuldades da vida sem ruir a obra de cada um.
Muitos casais iniciam a vida a dois colocando o acento da relação, no corpo. Depois, com o passar dos anos, a profissão ocupa um lugar predominante no projeto de ambos. Mais tarde, os filhos passam a ser o centro das atenções e absorvem todo o espaço do casal. Quando os filhos crescem e vão para o mundo, surge um vazio no casal, produto da desatenção ao longo dos anos. Então, as mágoas e as frustrações de um não ter sido importante para o outro aparecem com intensidade. O tempo passa, as necessidades são outras, a juventude fica para trás e um grande balanço de vida precisa acontecer para os dois se reencontrarem.
Uma relação de amor tolera ser esvaziada por um tempo, mas não o tempo todo. É preciso ter a consciência de que a construção de um projeto de vida exige certa renúncia, principalmente quando falamos de filhos e trabalho, mas ela não pode ser grande o suficiente como para distanciar o casal e criar ressentimentos que depois, ao longo da vida, sirvam de acusações mútuas que desgastarão a relação. É preciso ter em mente que o trabalho é importante, mas deve estar ao serviço do casal, que os filhos são importantes, mas são do mundo e no fim da vida teremos um ao outro, como iniciamos, mas sem o acento do corpo. Então é aí que o afeto cobra novamente seu lugar. E ficamos para os nossos filhos como um porto seguro onde podemos viver as nossas vidas enquanto eles vão e vêm com seus barquinhos.